Não podia faltar uma bela história de Pedro Malasartes.
O ANIVERSÁRIO MALASARTES
Era aniversário de Pedro Malasartes.
Ele adorava uma festa, mas estava sem dinheiro para comemorar, com uma
festança, o aniversário dele. Resolveu então, visitar o primo que tinha muito
dinheiro e, certamente, lhe ofereceria alguma coisa, apesar de ser um pouco
pão-duro. Chegando a fazenda do primo, este o recebeu com muito entusiasmado,
não pela visita, porém por economizar assim a viagem a casa do aniversariante.
Entraram e o primo foi logo oferecendo:
— Ó, primo Pedro! Tenho aqui uma
broa que sinhá assou, fresquinha. É tanta que vai durar a semana inteira.
— Broa de milho, primo?
— É sim, quer um pedaço?
— Não, primo - agradeceu Malasartes -
basta um cafezinho.
— Mas é seu aniversário primo, eu
reconheço que sou um pão-duro, mas um pouco de cortesia ao primo não faz mal!
Se quiser é só pedir.
Malasartes novamente agradeceu, porém
continuou só com o café. Continuaram proseando e, em meio à prosa, o primo lhe
diz:
— Olha Pedro, ontem mandei matar
aquele leitão capado que eu vinha engordando. Temos uma porção de torresmo e
toucinho frescos que mandei preparar. Quer um pouco, pois tenho bastante?
— Não me diga isso! Tem
muito mesmo?
— É o que lhe digo! Tenho bastante,
quer?
— Nada primo, pode deixar, basta um
cafezinho.
— Seja dito..., mas quando
quiser é só pedir.
Continuaram proseando mais e mais,
até que o primo fez nova oferta:
— Pedro, faz tempo que guardo umas
garrafas de cachaça. Vamos tomar uns goles para comemorar?
— E é dá boa?
— Da melhor.
— Não primo, para mim basta um
cafezinho.
- Não se faça de rogado que você tá
em casa. Quando ficar com vontade é só pedir.
E assim, o primo de Pedro Malasartes,
querendo lhe agradar pela passagem do aniversário e ao mesmo tempo percebendo
que Malasartes não estava querendo lhe dar despesa, foi oferecendo um pouco de
cada coisa que tinha na despensa. Malasartes ouvia e recusava; contentando-se
só com o cafezinho. E foram nessa toada até que ouviram uma tímida batida na porta.
O primo de Malasartes se levantou, abriu a porta e pegou de espiar; do
lado de fora havia uma verdadeira multidão de conhecidos. O primeiro foi logo
falando:
— Olha, desculpa a intrusão, mas
ficamos sabendo que Pedro Malasartes estava por aqui e passamos somente para
dar lhe dar os parabéns.
Desconfiado, mas sem ter como
recusar, o primo convidou a todos para entrar, mas foi logo avisando:
— Meus amigos! Gostaria de lhes
oferecer alguma coisa, mas... quase nada tenho na despensa...
Malasartes, deixando de lado o
cafezinho e interrompendo o primo, falou:
— Primo, sabe aquele torresmo, aquele
toucinho, aquela broa, a cachaça, a suco de laranja, a rosca, a linguiça, e
tudo mais que você me ofereceu? Agora eu até quero um pouquinho, que já me
cansei desse cafezinho que tomava pra modo de esperar o pessoal chegar...
Vosmecê calcule, o primo ficou aturdido, tonteou... Parecia inté que
estava para dar a alma a Deus; mas, uma vez que o oferecido estava em vigor,
acabou bancando toda a festa.
Pois foi assim que Pedro Malasartes teve a sua festança.
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