Rosane Pamplona trouxe a história de João-Sem-Sorte:
A ÁRVORE DOS DESEJOS
Era uma vez um homem que se queixava de levar uma
vida muito difícil. Achava-se tão injustiçado pelo destino, que ele mesmo se
apelidara de João-Sem-Sorte. Tudo lhe saíra errado: não conseguia fazer bons
negócios, nenhuma moça se interessava por ele, nada lhe trazia alegria.
Um dia, cansado de tanta falta de sorte, desiludido
com sua vida, resolveu se matar. Com uma corda na mão, dirigiu-se a uma velha
árvore que havia nos arredores da cidade, disposto a enforcar-se.
Quando, porém, jogou o laço num dos galhos, vindo
não se sabe bem de onde, apareceu um velho muito velho, de barbas longas, quase
transparentes, de tão brancas. Com uma voz roufenha (voz rouca), que parecia
vir de muito longe, o velho perguntou:
– Você está querendo se matar, meu filho? Será que
você tem mesmo motivos para isso? Venha, sente-se aqui comigo à sombra da
árvore e me conte o que aconteceu.
João-Sem-Sorte hesitou, mas obedeceu, impressionado
por aquele ser misterioso e imponente. Sentou-se ao lado dele e contou-lhe como
sua vida era difícil, como sofrera injustiças, como a sorte nunca estava ao seu
lado. Quando acabou de ouvir aquelas lamúrias, o velho revelou-lhe:
– Sabe meu filho, eu sou o Velho Destino. Sou tão
velho quanto à própria vida e não gosto que me chamem de injusto. Por isso vou
lhe dar uma chance: não muito longe daqui, existe uma árvore parecida com esta,
mas muito mais alta e frondosa. Saiba que essa é a Árvore dos Desejos. Debaixo
de sua copa, tudo o que você desejar se realizará, basta dizê-lo em voz alta.
Para chegar até lá, você deve caminhar durante sete dias sem parar, seguindo
sempre a direção do vento. Agora, seja feliz e aproveite a oportunidade do
Destino!
E, erguendo os braços, a estranha criatura
desapareceu. Na mesma hora, começou a soprar um forte vento.
João hesitou, mas tudo o impressionou de tal
maneira que ele decidiu aceitar as instruções do velho. “Afinal”, pensou ele,
“o que tenho a perder? Sempre posso desistir e voltar no meio do caminho. Eu ia
me matar, mesmo...” Assim resolvendo, pôs-se a andar seguindo o vento. E andou
e andou o dia inteiro. Naquela noite, ele dormiu um sono pesado e tranquilo,
talvez porque estivesse realmente cansado.
No dia seguinte, retomou a caminhada e a cada passo
sentia-se mais animado e cheio de esperanças. E assim caminhou perseverante,
por sete dias. No fim do sétimo dia – ó maravilha! – ele se deparou com a
árvore alta e frondosa descrita pelo velho Destino. Sem perder tempo, João
aproximou-se e disse em voz alta:
– Eu desejo comida e bebida à vontade!
E, porque ele desejasse, seu desejo foi atendido:
uma mesa coberta de iguarias apareceu à sua frente. Carnes cheirosas, biscoitos
dourados, bebidas de todos os sabores, de tudo João experimentava, dando gritos
de alegria. Depois, saciado, ele pediu:
– Agora, uma cama macia, com almofadas de pena!
E, porque ele desejasse, seu desejo foi atendido.
No dia seguinte, João acordou feliz e desejou uma
refeição leve; e depois desejou um bom banho, e depois uma linda e carinhosa
mulher e depois uma casa confortável para os dois e belas roupas e joias, e
tudo o mais que lhe vinha à mente.
E, porque ele desejasse, tudo lhe era atendido.
Assim ele viveu feliz durante vários dias, bastando
desejar para ser atendido.
Uma bela manhã, porém, João acordou perturbado. Sua
mulher já se levantara e preparava com todo o cuidado o café da manhã que
costumava levar ao marido. Sozinho em seu quarto, João se pôs a cismar. “Mas
que história incrível a que aconteceu comigo... Realmente, há algo muito
estranho aqui... Quem poderia acreditar que eu, há poucos dias, era o homem
mais infeliz do mundo? Será que isso não é uma armadilha? Aquele velho era tão
estranho... Pensando bem, mais me pareceu um feiticeiro maligno... Acho que fui
um tolo acreditando nele!”
Nisso, a sua bela mulher apareceu na porta do
quarto com a bandeja na mão. Atormentado, João olhou para ela e disse:
– Só me falta agora essa mulher ser um demônio
disfarçado e querer me devorar!
E, porque ele desejasse...
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