segunda-feira, 23 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Esta é uma das histórias fantásticas que Ruth Rocha escreveu e publicou em seu Almanaque:

O GALO E A RAPOSA

             Era um galo do mato, muito quietinho no seu canto, que não incomodava ninguém.
           Ciscava o de-comer no quintal, cantava no galho mais alto da goiabeira quando saía o sol e vivia de olho no mato, com medo de alguma raposa que pudesse aparecer.
            Um dia, logo depois da alvorada, ele reparou que alguma coisa estava se mexendo na capoeira mais próxima.
           Na mesma hora o galo deu uma corridinha, sacudiu as asas para ajudar o pulo e saltou, mais que depressa, para o alto da goiabeira.
            Foi só ele se acomodar e apareceu, como sempre muito esperta, Dona Raposa.
            - Bom dia, compadre Galo – a raposa disse, muito gentil.
- Bom dia, comadre Raposa – respondeu o galo, muito desconfiado.
- Mas o que é isso, compadre Galo? Pode descer da sua árvore! Não precisa ter medo de mim... O compadre não está sabendo que foi decretada a Paz entre os animais? Nosso rei Leão resolveu que de agora em diante não há mais animais inimigos... O gato anda aos beijos com o rato, o lobo aos abraços como carneiro...
- Ora veja, comadre – disse o galo. – É verdade, mesmo?
- Pois é isso, compadre Galo. O compadre não sabia, não?
- Não sabia não, comadre Raposa, não sabia não...
- Pois desça do seu poleiro que isso não é mais necessário, compadre Galo. Venha aqui pra baixo pra me dar um abraço. Falo questão de lhe dar um abraço...
- Eu também, comadre Raposa. Faço questão de lhe dar um abraço. Desço já. Aliás, nossa festa vai ser completa... Estou vendo daqui de cima dois cachorros perdigueiros, daqueles que antigamente caçavam raposas, e que vêm chegando decerto para abraçar a comadre também...
- Pode deixar, compadre Galo. A festa fica pra outra vez. Lembrei que tenho um compromisso e que estou atrasada...
E a raposa ganhou a estrada mais do que depressa, sem esperar para ver se era verdade o que o galo estava dizendo. E o galo ficou se rindo no alto da goiabeira, satisfeito da vida, pois se há uma coisa divertida é enganar quem é metido a enganador...


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