Esta é uma das histórias fantásticas que Ruth Rocha escreveu e publicou em seu Almanaque:
O GALO E A RAPOSA
Era
um galo do mato, muito quietinho no seu canto, que não incomodava ninguém.
Ciscava o de-comer no quintal,
cantava no galho mais alto da goiabeira quando saía o sol e vivia de olho no
mato, com medo de alguma raposa que pudesse aparecer.
Um dia, logo depois da alvorada, ele
reparou que alguma coisa estava se mexendo na capoeira mais próxima.
Na mesma hora o galo deu uma
corridinha, sacudiu as asas para ajudar o pulo e saltou, mais que depressa,
para o alto da goiabeira.
Foi só ele se acomodar e apareceu,
como sempre muito esperta, Dona Raposa.
- Bom dia, compadre Galo – a raposa
disse, muito gentil.
-
Bom dia, comadre Raposa – respondeu o galo, muito desconfiado.
-
Mas o que é isso, compadre Galo? Pode descer da sua árvore! Não precisa ter
medo de mim... O compadre não está sabendo que foi decretada a Paz entre os
animais? Nosso rei Leão resolveu que de agora em diante não há mais animais
inimigos... O gato anda aos beijos com o rato, o lobo aos abraços como
carneiro...
-
Ora veja, comadre – disse o galo. – É verdade, mesmo?
-
Pois é isso, compadre Galo. O compadre não sabia, não?
-
Não sabia não, comadre Raposa, não sabia não...
-
Pois desça do seu poleiro que isso não é mais necessário, compadre Galo. Venha
aqui pra baixo pra me dar um abraço. Falo questão de lhe dar um abraço...
-
Eu também, comadre Raposa. Faço questão de lhe dar um abraço. Desço já. Aliás,
nossa festa vai ser completa... Estou vendo daqui de cima dois cachorros
perdigueiros, daqueles que antigamente caçavam raposas, e que vêm chegando
decerto para abraçar a comadre também...
-
Pode deixar, compadre Galo. A festa fica pra outra vez. Lembrei que tenho um
compromisso e que estou atrasada...
E
a raposa ganhou a estrada mais do que depressa, sem esperar para ver se era
verdade o que o galo estava dizendo. E o galo ficou se rindo no alto da
goiabeira, satisfeito da vida, pois se há uma coisa divertida é enganar quem é
metido a enganador...
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