terça-feira, 31 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Giba Pedrosa e o grupo Girasonhos, contadores de histórias, encerram hoje o circuito de "uma história por dia..." durante as férias.

Todas as histórias e fontes que passaram por aqui fazem parte do acervo de trabalho dos Grupos de Estudo do Apoio Pedagógico.

Esperamos que você tenha gostado! Bom retorno às aulas para todos nós!


         PEQUENINO GRÃO DE AREIA
         Contam que era uma vez um pequenino grão-de-areia chamado Godofredo. Era um comum e pequenino grão-de-areia que morava em uma praia, em meio a milhares e milhares de grãos de areia. Quando o vento soprava o seu sopro forte, os grãozinhos de areia corriam para um lado. Quando o vento soprava paro o outro lado, lá iam todos eles.
À noite, quando todos os grãos de areia dormiam, cansados de tanto soprar do vento, só o Godofredo ficava acordado. É que ele passava as noites admirando o bailar das estrelas. Porque, todas às noites, lindas estrelas bailarinas colocavam suas sapatilhas, fitas azuis nos cabelos e iam dançar bem pertinho da lua.
Enquanto elas dançavam lá no alto, cá em baixo, na praia, os olhos do grão-de-areia eram de um brilho só. Um dia, de tanto olhar para as estrelas, ele se encantou por uma delas. A mais linda das estrelas, que flutuava e parava com a pontinha dos seus pés na ponta da lua minguante.
Muitas e muitas vezes, quando todas as estrelas iam embora, pois o dia vinha chegando, a estrelinha ficava dançando só para o Godofredo. E, enquanto ela dançava, ele suspirava emocionado. Um dia, esse grão-de-areia quis se casar com a estrela. Ele tomou coragem, olhou lá pro alto e pediu a estrela em casamento:
- Casa comigo estrelinha? Você fica brilhando tão sozinha aí no alto e eu brilhando tão sozinho aqui embaixo! Vai, pula! Vem juntar o seu brilho com o meu!
A estrela achou tão bonito o pedido de casamento, que resolveu se casar na hora com o grão-de-areia. Ela olhou aqui para baixo, para a praia, e disse:
- Vou casar com você, me espera! Eu já estou iinnnnndo...
Só que ela errou o alvo. E ao invés de cair na praia, caiu no mar. E foi afundando, afundando, afundando... Até que parou bem no fundo do mar. Decidido, Godofredo saiu correndo, passando pelo meio dos outros grãos de areia e foi ao encontro da estrela. Foi se arrastando e flutuando pelas profundezas do oceano e, muitos anos depois, chegou lá na ponta do horizonte, onde o mar
até parece que acaba aos olhos da gente. Lá, ele encontrou a sua estrela e os dois se beijaram. Foi um beijo tão bonito, que dele nasceram todas as estrelas do mar.
Por isso, quando você estiver caminhando por uma praia, qualquer praia, de qualquer canto do mundo, e encontrar uma estrela do mar, pode ter certeza de que você acaba de conhecer uma das tantas lindas filhas de Godofredo com Maria Estela. E de vez em quando, as meninas estrelas, que ainda moram no céu, brincam de pular e se lançar céu abaixo. É nessas horas que a gente vê as estrelas cadentes.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Rogério Andrade Barbosa escreveu e Maurício Veneza ilustrou contos africanos de adivinhação. 
Este é um deles:

TRÊS MERCADORIAS MUITO ESTRANHAS

           Um velho camponês, teimoso como uma mula, precisava atravessar um trecho do caudaloso rio Niger carregando um leopardo, uma cabra e um saco cheio de inhames.
            A garotada das aldeias situadas em margens opostas sentou-se no chão barrento, na maior algazarra, para ver como o rabugento conseguiria transpor a perigosa correnteza.
            A canoa do homem era muito pequena e ele só poderia carregar um de seus pertences de cada vez.
            Se deixar a cabra com o inhame – disse um dos meninos -, a esfomeada come tudo.
            Se largar o leopardo com a cabra, o manchado devora o bichinho – opinou outro garoto.
            Irritado com a zombaria, o aldeão reclamou em altos brados:
            Vocês não aprenderam, de acordo com nossa tradição, a respeitar os idosos? Em vez de ficarem criticando, por que não me ajudam? O que vocês fariam se estivessem em meu lugar? Lembre-se – argumentou, citando um antigo provérbio -, “quem é velho já foi jovem”.
             As palavras do ancião na mesma hora deixaram a meninada em silêncio.
            O homem não desistiu e, como não queria perder nada, pôs-se a pensar, agachado à beira da água lamacenta. No entanto, por mais que quebrasse a cabeça, não encontrava uma solução.

QUE SOLUÇÃO VOCÊ DARIA PARA RESOLVER O PROBLEMA?

           O aldeão, desesperado, recorreu a um lavrador de cabelo grisalho montado em um burrico a caminho de um mercado distante dali.
— Primeiro – disse o homem, depois de coçar a cabeça por um instante -, você tem de remar com a cabra para a outra margem e deixar o leopardo com o saco de inhame. Esse animal, como todos sabem, não gosta de comer raízes.
— Depois – continuou -, atravesse para cá e carregue o saco de inhame para lá. Ao voltar, traga a cabra com você.
— E, para completar a travessia – arrematou -, leve o leopardo e, em seguida, retorne para buscar a cabra.
Foi assim, finalmente, que o camponês atravessou o rio.
De acordo com um ditado africano, “ninguém deve rir de um velho”.



domingo, 29 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Qual será o grande problema que Pedro Bandeira imaginou?


UM PROBLEMA DIFÍCIL

         Era um problema dos grandes. A turminha reuniu-se para discuti-lo e Xexéu voltou para casa preocupado. Por mais que pensasse, não atinava com uma solução. Afinal, o que poderia ele fazer para resolver aquilo? Era apenas um menino!
           Xexéu decidiu falar com o pai e explicar direitinho o que estava acontecendo. O pai ouviu calado, muito sério, compreendendo a gravidade da questão. Depois que o garoto saiu da sala, o pai pensou um longo tempo. Era mesmo preciso enfrentar o problema. Não estava em suas mãos, porém, resolver um caso tão difícil.
Procurou o guarda do quarteirão, um sujeito muito amigo que já era conhecido de todos e costumava sempre dar uma paradinha para aceitar um cafezinho oferecido por algum dos moradores. 
O guarda ouviu com a maior das atenções. Correu depois para a delegacia e expôs ao delegado tudo o que estava acontecendo.
 O delegado balançou a cabeça, concordando. Sim, alguma coisa precisava ser feita, e logo! Na mesma hora, o delegado passou a mão no telefone e ligou para um vereador, que costumava sensibilizar-se com os problemas da comunidade. 
Do outro lado da linha, o vereador ouviu sem interromper um só instante. Foi para a prefeitura e pediu uma audiência ao prefeito. Contou tudo, tintim por tintim. O prefeito ouviu todos os tintins e foi procurar um deputado estadual do mesmo partido para contar o que havia.
O deputado estadual não era desses políticos que só se lembram dos problemas da comunidade na hora de pedir votos. Ligou para um deputado federal, pedindo uma providência urgente. O deputado federal ligou para o governador do estado, que interrompeu uma conferência para ouvi-lo. 
O problema era mesmo grave, e o governador voou até Brasília para pedir uma audiência ao ministro. 
O ministro ouviu tudinho e, como já tinha reunião marcada com o presidente, aproveitou e relatou-lhe o problema. 
O presidente compreendeu a gravidade da situação e convocou uma reunião ministerial. O assunto foi debatido e, depois de ouvir todos os argumentos, o presidente baixou um decreto para resolver a questão de uma vez por todas. 
Aliviado, o ministro  procurou o governador e contou-lhe a solução. O governador então ligou para o deputado federal, que ficou muito satisfeito. Falou com o deputado estadual, que, na mesma hora, contou tudo para o prefeito. O prefeito mandou chamar o vereador e mostrou-lhe que a solução já tinha sido encontrada. 
O vereador foi até a delegacia e disse a providência ao delegado. O delegado, contente com aquilo, chamou o guarda e expôs a solução do problema. O guarda, na mesma hora, voltou para a casa do pai do Xexéu e, depois de aceitar um café, relatou-lhe satisfeito que o problema estava resolvido. 
O pai do Xexéu ficou alegríssimo e chamou o filho.
Depois de ouvir tudo, o menino arregalou os olhos:
- Aquele problema? Ora, papai, a gente já resolveu há muito tempo!

sábado, 28 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Nesta lenda, Sávia Dumont nos recontou uma das mais belas histórias indígenas do Brasil.

OS MENINOS QUE VIRARAM ESTRELAS

            “Quem vai ao Mato Grosso se encanta com o céu estrelado. Conta-se por lá que as estrelas nasceram da amizade entre uns indiozinhos e um beija-flor, que sempre os acompanhava em suas estripulias.
            Certo dia, as índias da tribo foram colher milho para fazer comidas gostosas para seus maridos, que estavam caçando. Depois de debulhar as espigas, cantando despreocupadas, puseram os grãos para secar ao sol. Enquanto o milho secava, as índias foram se banhar no rio.
            Os curumins observavam tudo aquilo loucos para que o milho secasse logo e eles pudessem comer afinal os quitutes prometidos. Mas não tiveram paciência de esperar. Pediram à avó, já bem velhinha, que fizesse logo um bolo para eles. Tanto insistiram, que a vovó fez o bolo, devorado por eles num abrir e fechar de olhos.
            O papagaio tagarela, que a tudo assistia, ameaçava:
            - Vou contar tudo para as índias. Vou contar que vocês usaram o milho e encheram a barriga com o que era guardado para os guerreiros... Vou contar tudo – repetia.
            Com medo de levar uns bons cascudos, os curumins foram correndo se esconder na mata.
            Assim que as índias retornaram à aldeia, o papagaio deu com a língua no bico. Contou o acontecido, tintim por tintim. As mães dos meninos ficaram furiosas e prometeram uma surra  bem dada quando eles  aparecessem.
            Sabendo o que os esperava, os indiozinhos passaram a tarde emendando um no outro os cipós da floresta. Agarraram-se então na corda comprida que assim fizeram e pediram ao amigo beija-flor que pegasse a ponta do cipó no bico e voasse o mais alto que pudesse. E lá se foi a avezinha, levando para o céu o cipó apinhado de meninos.
            As índias, desesperadas, chamavam o beija-flor de volta. Mas quanto mais elas chamavam, mais alto ele voava.
            À medida que iam subindo, os meninos choravam, e cada lágrima que caía virava uma estrela solta no ar. Fascinados, os curumins continuaram a brincadeira e não voltaram mais para a aldeia. Ficaram morando no céu.
            Fez-se um colar imenso de estrelas. Quando a saudade bate forte, mães e filhos trocam olhares. Dizem que em cada estrela que brilha desvenda-se um segredo do Universo."


sexta-feira, 27 de julho de 2018

Lua de sangue

VOCÊ ACOMPANHOU O ECLIPSE DA LUA HOJE?

CONSEGUIU REGISTRAR O FENÔMENO?

COMO ELE ACONTECE?

Eclipses Lunares ocorrem quando a Lua atravessa a região de sombra que o planeta Terra projeta no espaço.
Durante o eclipse total, a lua fica com uma coloração avermelhada em razão do desvio sofrido pela luz solar na atmosfera da Terra.
Ocorrem pelo menos duas vezes por ano. 

O próximo será em 21 de janeiro de 2019.


No site abaixo, você poderá ver imagens do eclipse em diversos países  onde ele pode ser visto:


UMA HISTÓRIA POR DIA...

Este é um conto popular que Ricardo Azevedo recontou mostrando o que aconteceria com alguém que nunca viu um espelho.

O CASO DO ESPELHO

Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata. 
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos: 
- Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?
- Isso é um espelho - explicou o dono da loja. 
- Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai. 
Os olhos do homem ficaram molhados. 
- O senhor... conheceu meu pai? - perguntou ele ao comerciante. 
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira. 
- É não! - respondeu o outro. - Isso é o retrato do meu pai. É ele, sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito? 
O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho.
Naquele dia, o homem que não sabia quase nada, entrou em casa todo contente. Guardou cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira. 
A mulher ficou só olhando. 
No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando. 
- Ah, meu Deus! - gritava ela desnorteada. - É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu! 
- Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida. 
- Que foi isso, mulher? 
- Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato? 
- Que retrato? - perguntou o marido, surpreso. 
- Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira! 
O homem não estava entendendo nada. 
- Mas aquilo é o retrato do meu pai! Indignada, a mulher colocou as mãos no peito: 
- Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa? 
A discussão fervia feito “água na chaleira”. 
- Velho lazarento coisa nenhuma! - gritou o homem, ofendido. 
A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa. 
- Que é isso, menina? 
- Aquele cafajeste arranjou outra! 
- Ela ficou maluca!! - berrou o homem, de cara amarrada. 
- Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher! 
A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato. 
Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada. 
- Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje! 
E completou feliz, abraçando a filha: 
- Fica tranquila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!

                                           Ilustração de Alarcão

quinta-feira, 26 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Cecília Meireles usou sua pena para nos deixar maravilhados: 

CAMELÔ CAPRICHADO

       “Senhoras, senhoritas, cavalheiros! – estudantes, professores, jornalistas, escritores, poetas, juízes – todos os que vivem da pena, para a pena, pela pena! – esta é a caneta ideal, a melhor caneta do mundo (marca Ciclope!), do maior contrabando jamais apreendido pela Guardamoria! (E custa apenas 10 reais!)”
           
“Esta é uma caneta especial que escreve de baixo para cima, de cima para baixo, de trás para diante e de diante para trás! – (Observem!) Escreve em qualquer idioma, sem o menor erro de gramática! (E apenas por 10 reais!)”

“Esta caneta não congela com o frio nem ferve com o calor; resiste à umidade e pressão; pode ir à Lua e ao fundo do mar, sendo a caneta preferida pelos cosmonautas e escafandristas. Uma caneta para as grandes ocasiões: inalterável ao salto, à carreira, ao mergulho e ao voo! A caneta dos craques! Nas cores mais modernas e elegantes: verde, vermelha, roxa... (apreciem) para combinar com o seu automóvel! Com a sua gravata! Com os seus olhos!... (Por 10 reais!)”

“Esta caneta privilegiada: a caneta marca Ciclope, munida de um curioso estratagema, permite mudar a cor da escrita, com o uso de duas tintas, o que facilita a indicação de grifos, títulos, citações de frases latinas, versos e pensamentos inseridos nos textos em apreço! A um simples toque, uma pressão invisível (assim!) a caneta passa a escrever em vermelho ou azul, roxo ou cor-de-abóbora, conforme a fantasia do seu portador. (E custa apenas 10 reais!)”

“Adquirindo-se uma destas maravilhosas canetas,pode-se dominar qualquer hesitação da escrita: a caneta Ciclope escreve por si! Acabaram-se as dúvidas sobre crase, o lugar dos pronomes, as vírgulas e o acento circunflexo! Diante do erro, a caneta para, emperra – pois não é uma caneta vulgar, de bomba ou pistão, mas uma caneta atômica, sensível, radioativa. Candidatos a concursos, a cargos públicos, a lugares de responsabilidade! – a caneta Ciclope resolve todos os problemas ortográficos e caligráficos! E ainda mais: esta caneta não apenas escreve, mas pensa! (E por 10 reais!)”

“Não mais dificuldades de rima nem de concordância! Com esta caneta pode-se escrever com igual facilidade qualquer romance policial, peça de teatro, folhetim, artigos, crônicas, procurações e testamentos! Tudo rápido, correto, limpo! Cartas de negócio e cartas de amor! Tudo com o mesmo sucesso: porque esta caneta Ciclope (como o nome está dizendo) é um gigante que transporta qualquer ideia para qualquer lugar. (E custa apenas 10 reais: a melhor caneta, do maior contrabando!)”

“A caneta Ciclope não mancha nem enferruja, não acaba nunca, e tem um curioso dispositivo, nestes dois ganchos, podendo ser usada no bolso do paletó ou na manga da camisa! Dourada, prateada, com belos complementos coloridos – é a caneta de escritores, escrivães e escriturários – jornalistas, radialistas, desportistas – (com o mesmo sucesso em qualquer gênero!) – do promotor e do acusado, de todos os que vivem da pena, para a pena e pela pena! (Por 10 reais!)”

“Senhoras, senhoritas, cavalheiros, aqui está um bloquinho de papel: Experimentem! Experimentem! Apreciem as tintas, os ganchos, as cores, o ouro e a prata (inoxidáveis!): experimentem a maciez, a presteza, a velocidade, a exatidão! (Por 10 reais!)”

“Qualquer pessoa pode ficar célebre, de um momento para outro com o simples uso da caneta Ciclope: uma caneta que escreve, uma caneta que pensa! Exclusiva! Original! Sem precedentes! (E apenas por 10 reais!)”

“(Ainda não pude comprar a caneta maravilhosa, porque há multidões em redor do camelô. Mas sua arenga – como as dos tempos eleitorais – não é rica só de esperanças, mas também de severas ameaças para os que vivem da pena, para a pena e pela pena!...)


quarta-feira, 25 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Rosane Pamplona trouxe a história de João-Sem-Sorte:

A ÁRVORE DOS DESEJOS

Era uma vez um homem que se queixava de levar uma vida muito difícil. Achava-se tão injustiçado pelo destino, que ele mesmo se apelidara de João-Sem-Sorte. Tudo lhe saíra errado: não conseguia fazer bons negócios, nenhuma moça se interessava por ele, nada lhe trazia alegria.
Um dia, cansado de tanta falta de sorte, desiludido com sua vida, resolveu se matar. Com uma corda na mão, dirigiu-se a uma velha árvore que havia nos arredores da cidade, disposto a enforcar-se.
Quando, porém, jogou o laço num dos galhos, vindo não se sabe bem de onde, apareceu um velho muito velho, de barbas longas, quase transparentes, de tão brancas. Com uma voz roufenha (voz rouca), que parecia vir de muito longe, o velho perguntou:
– Você está querendo se matar, meu filho? Será que você tem mesmo motivos para isso? Venha, sente-se aqui comigo à sombra da árvore e me conte o que aconteceu. 
João-Sem-Sorte hesitou, mas obedeceu, impressionado por aquele ser misterioso e imponente. Sentou-se ao lado dele e contou-lhe como sua vida era difícil, como sofrera injustiças, como a sorte nunca estava ao seu lado. Quando acabou de ouvir aquelas lamúrias, o velho revelou-lhe:
– Sabe meu filho, eu sou o Velho Destino. Sou tão velho quanto à própria vida e não gosto que me chamem de injusto. Por isso vou lhe dar uma chance: não muito longe daqui, existe uma árvore parecida com esta, mas muito mais alta e frondosa. Saiba que essa é a Árvore dos Desejos. Debaixo de sua copa, tudo o que você desejar se realizará, basta dizê-lo em voz alta. Para chegar até lá, você deve caminhar durante sete dias sem parar, seguindo sempre a direção do vento. Agora, seja feliz e aproveite a oportunidade do Destino!
E, erguendo os braços, a estranha criatura desapareceu. Na mesma hora, começou a soprar um forte vento.
João hesitou, mas tudo o impressionou de tal maneira que ele decidiu aceitar as instruções do velho. “Afinal”, pensou ele, “o que tenho a perder? Sempre posso desistir e voltar no meio do caminho. Eu ia me matar, mesmo...” Assim resolvendo, pôs-se a andar seguindo o vento. E andou e andou o dia inteiro. Naquela noite, ele dormiu um sono pesado e tranquilo, talvez porque estivesse realmente cansado.
No dia seguinte, retomou a caminhada e a cada passo sentia-se mais animado e cheio de esperanças. E assim caminhou perseverante, por sete dias. No fim do sétimo dia – ó maravilha! – ele se deparou com a árvore alta e frondosa descrita pelo velho Destino. Sem perder tempo, João aproximou-se e disse em voz alta:
– Eu desejo comida e bebida à vontade!
E, porque ele desejasse, seu desejo foi atendido: uma mesa coberta de iguarias apareceu à sua frente. Carnes cheirosas, biscoitos dourados, bebidas de todos os sabores, de tudo João experimentava, dando gritos de alegria. Depois, saciado, ele pediu:
– Agora, uma cama macia, com almofadas de pena!
E, porque ele desejasse, seu desejo foi atendido.
No dia seguinte, João acordou feliz e desejou uma refeição leve; e depois desejou um bom banho, e depois uma linda e carinhosa mulher e depois uma casa confortável para os dois e belas roupas e joias, e tudo o mais que lhe vinha à mente.
E, porque ele desejasse, tudo lhe era atendido.
Assim ele viveu feliz durante vários dias, bastando desejar para ser atendido.
Uma bela manhã, porém, João acordou perturbado. Sua mulher já se levantara e preparava com todo o cuidado o café da manhã que costumava levar ao marido. Sozinho em seu quarto, João se pôs a cismar. “Mas que história incrível a que aconteceu comigo... Realmente, há algo muito estranho aqui... Quem poderia acreditar que eu, há poucos dias, era o homem mais infeliz do mundo? Será que isso não é uma armadilha? Aquele velho era tão estranho... Pensando bem, mais me pareceu um feiticeiro maligno... Acho que fui um tolo acreditando nele!”
Nisso, a sua bela mulher apareceu na porta do quarto com a bandeja na mão. Atormentado, João olhou para ela e disse:
– Só me falta agora essa mulher ser um demônio disfarçado e querer me devorar!
E, porque ele desejasse...


terça-feira, 24 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Um conto maravilhoso de Regina Machado:

OS TRÊS HOMENS ATENTOS


Três homens caminhavam juntos por uma estrada quando passou  por eles um velho muito apressado:
- Por acaso vocês viram o meu camelo? - ele perguntou, cheio de preocupação.
O primeiro homem respondeu-lhe com outra pergunta:
- Seu camelo é cego de um olho?
- É sim – disse o cameleiro.
- Ele não tem um dos dentes da frente? – continuou o segundo homem.
- É isso mesmo.
- É manco de uma perna? – completou o terceiro.
- Com certeza – ele afirmou.
Os três homens então o aconselharam a seguir na direção de onde eles vinham vindo, que logo encontrariam seu camelo. O cameleiro agradeceu muito a indicação e se foi. Mas nem sinal do camelo.
“Vou voltar correndo para falar mais uma vez com aqueles viajantes”, ele disse para si mesmo. “Quem sabe poderão me dizer mais claramente em que lugar eles o viram.”
No final do dia, já quase sem forças, o dono do camelo avistou os três homens  descansando debaixo de uma amendoeira à beira da estrada.
- Não achei nada – ele gritou.
- O camelo levava duas cargas, de um lado mel e do outra milho? – perguntou o primeiro homem.
- Sim – respondeu o cameleiro, bastante ansioso.
- Uma mulher grávida estava montada nele? – quis saber o segundo.
- Era minha mulher – falou o cameleiro.
- Sinto muito – disse finalmente o terceiro homem. – Nós não vimos o seu camelo.
           O cameleiro foi embora desapontado, mas no caminho começou a juntar os fatos. “Se eles sabem de tudo isso, é claro  que estão escondendo de mim alguma coisa importante. E se estão escondendo, é porque foram eles que roubaram meu camelo, a carga e também minha mulher. São ladrões perigosos, mas não vão me enganar.”
             Correu até o juiz e contou toda a história, muito nervoso. O juiz achou que o cameleiro tinha motivos mais que justos para suspeitar daqueles homens e, ordenou que os prendessem  como ladrões. Enquanto isso, iria mandar investigar os fatos, para confirmar a culpa dos viajantes.
             Algum tempo depois,  o cameleiro voltou para casa e encontrou a mulher  cozinhando um delicioso carneiro para o jantar. Ela disse que deixara o camelo no campo perto da casa de sua comadre, onde tinha parado para conversar.
              O cameleiro retornou à corte e, pedindo desculpas  por ter se enganado, disse ao juiz que podia libertar os homens. O juiz mandou chamar os três viajantes.
            - Se vocês nem sequer tinham visto o camelo, como podiam saber tantas coisas sobre ele? – perguntou, cheio de curiosidade.
             - Bem – disse o primeiro homem -, nós vimos suas pegadas no caminho.
          - Uma das pegadas era mais fraca  do que as outras, por isso deduzimos que era manco – disse o segundo.
            - Além disso, ele tinha mordiscado o mato de um lado só da estrada e, assim, devia ser cego de um olho – continuou o terceiro.
              O primeiro seguiu falando:
              - As folhas estavam rasgadas, o que indica que o camelo tinha perdido um dente.
              E o terceiro:
              - De um lado do caminho vimos abelhas sobre os restos de alguma coisa no chão e, do outro lado, havia formigas sobre um outro monte. As abelhas comiam o mel que havia caído da carga, e as formigas recolhiam os grãos de milho.
              - Também vimos alguns fios de cabelo humano bem compridos que só podiam ser de uma mulher. Eles estavam bem no lugar onde alguém tinha parado um animal e  depois descido – disse o primeiro homem.
              - No lugar onde a mulher sentou, observamos as marcas de duas palmas das mãos, o que nos levou a pensar que ela precisava apoiar-se, tanto para sentar-se como para levantar. Assim, deduzimos que a mulher estava grávida. – completou o segundo homem.
              O juiz ficou impressionado.
              - Mas por que não se defenderam, se não tinham culpa de nada?
              - Porque nós sabíamos que ninguém iria roubar um camelo manco, cego de um olho, sem um dente, levando uma mulher grávida! E que logo seu dono iria encontrá-lo. Sabíamos também que ficaria envergonhado e viria até a corte para corrigir seu erro – disseram os três juntos.
              Naquela noite, o juiz, antes de dormir, ficou um tempão sentado na cama lembrando do seu camelo. Nunca tinha reparado se ele era manco, ou se era cego de um olho, ou se lhe faltava um dente.
              Quanto aos três homens, até hoje viajavam pelos caminhos do mundo, realizando o trabalho que lhes foi destinado.