quinta-feira, 12 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Da Mitologia Grega, Adriane Duarte nos conta sobre o Minotauro.

COMO TESEU MATOU O MINOTAURO?

Nas horas que se seguiram do reencontro entre Teseu e seu pai, o pai não poupou palavras carinhosas para receber dignamente o filho e felicitá-lo por seus primeiros sucessos. No entanto, durante a festa, Egeu mantinha um semblante sombrio. O filho percebeu sua inquietação e quis saber o motivo dela:
̶  Você parecia tão contente há pouco. O que o está preocupando?
Egeu baixou a cabeça tristemente:
̶  Não, meu filho, preocupações mais graves me torturam. Um triste aniversário se aproxima: como acontece a cada nove anos, Atenas deverá pagar o tributo de sete moças e sete rapazes ao rei de Creta, Minos. Seu filho Androgeu foi morto perto de nossa cidade pelo touro de Maratona, e ele nos responsabiliza por isso. Pagamos para evitar uma guerra sangrenta.
O intrépido herói reagiu:
̶  Pois bem, meu pai, farei parte desse tributo, que será o último!
Egeu tentou dissuadi-lo, inutilmente. Acabava de reencontrar o filho único e não queria se separar dele tão depressa. Além do mais, estava ficando velho, e já era tempo de deixar o trono para Teseu.
O herdeiro lhe prometeu que logo estaria novamente em Atenas para sucedê-lo. Preparou o embarque. Na hora de ir, ainda fez o possível para consolar o pai com essas palavras tranquilizadoras:
̶  Na partida, como a cidade está de luto, içamos tristes velas negras. Se eu voltar são e salvo, você verá as velas brancas da vitória.
Não ousou completar dizendo que se as negras continuassem içadas, indicariam que ele teria morrido...
Com essas palavras de esperança, Teseu se fez ao mar, rumo a Creta. A travessia foi triste, porque as jovens vítimas tinham ouvido falar do Minotauro. Uma delas disse a Teseu, que se informava:
̶ Somos todos destinados a esse monstro. Nascido dos amores condenáveis da rainha Pasífae com um touro, esse ser híbrido, metade homem, metade touro, tornou-se a vergonha do palácio de Cnossos. Para isolá-lo, Minos pediu a Dédalo, o maior de todos os arquitetos, também ateniense, que construísse um labirinto. Nele mantém encerrado o Minotauro e lhe dá nossos jovens corpos para comer. Ninguém jamais voltou de lá!
Quando desembarcaram, Teseu tentou tranquilizar os passageiros, cuja fisionomia espelhava um terror crescente.
A filha do rei, Ariadne, viu-o no meio dos jovens apavorados e notou sua estatura excepcional. Ele parecia ser o único a não aceitar a morte. A determinação e a bravura de Teseu lhe agradaram, e ela decidiu ajudá-lo na luta contra o Minotauro. Antes que os atenienses entrassem no labirinto, a jovem sussurrou algumas palavras ao herói:
̶  Se você quer escapar, pegue este novelo de fio branco. Eu fico segurando a outra ponta. É só desenrolá-lo na ida e seguir o fio ao voltar. Que os deuses o protejam!
Uma coisa era enfrentar o Minotauro, outra, sair daquele lugar com mil divisões emaranhadas. Para agradecer à moça, Teseu prometeu levá-la consigo e se casar com ela. Era justamente isso que Ariadne esperava.
As portas se fecharam atrás dos jovens. Um longo silêncio se seguiu. Em voz baixa, Teseu mandou que todos se postassem perto da saída, enquanto ele ia dar cabo do monstro. Seu otimismo tranquilizou um pouco os coitados, que lhe desejaram boa sorte.
Tomando o cuidado de desenrolar o fio de seda enquanto avançava, ele se embrenhou nos corredores. Na outra ponta, Ariadne seguia seu progresso e ficava atenta ao menor tremor. De repente, o fio se agitou. Pronto! Teseu estava diante do Minotauro.
A besta enorme atacou o herói, mas, ágil, ele escapou com um pulo desse primeiro assalto. E, de passagem, ainda conseguiu lhe arrancar um chifre. Quando o Minotauro deu meia-volta, Teseu investiu sobre ele, procurando fincar o chifre na sua testa. O bicho tentou se esquivar do golpe, e o chifre se cravou em seu flanco, fazendo-o perder muito sangue. O monstro então morreu, lentamente.
Graças ao estratagema de Ariadne, foi fácil para Teseu redescobrir o caminho de volta.
Sem aguardar a reação de Minos, partiu da ilha em companhia daquela que os salvara, a ele e aos belos jovens atenienses, que se apressaram a festejar o fim do pesadelo. A viagem foi alegre. Todos celebravam a vitória de Teseu e comemoravam seu casamento com Ariadne.
A cidade aguardava entusiasmada a chegada de Teseu, que fez escala na ilha de Naxos para que os viajantes descansassem. Até aí, tudo corria às mil maravilhas entre ele e Ariadne, mas agora o herói parecia sentir remorso. Será que não lhe prometera casamento depressa demais? Quis desmanchar o compromisso, porém não teve coragem de anunciar o rompimento à moça. Certa tarde, quando ela dormia na praia, embarcou na nau e partiu da ilha, abandonando a noiva. Ao despertar, a coitada se viu sozinha. Chorou todas as suas lágrimas.
Dioniso, que passava por ali, ficou vivamente emocionado ao encontrar a moça tão triste e no mesmo instante lhe propôs casamento. Ariadne acabava de perder um herói, mas tinha encontrado um deus.
Por sua vez, Teseu estava tão feliz de retornar a Atenas e rever seu velho pai que logo esqueceu o incidente. Mas a alegria dele provocou outro esquecimento, este bastante trágico: as velas negras permaneceram içadas no alto do mastro.
Quando Egeu avistou ao longe o sinal funesto, atirou-se no mar, desesperado. O filho nunca mais o viu. Teseu chorou muito tempo por ele e deu àquela parte do oceano o nome de mar Egeu.
Em honra a esse pai que mal conhecera, Teseu celebrou funerais magníficos. Feito rei de Atenas, reinou por longos anos com sabedoria. Ainda foi chamado a cumprir várias provas fora da cidade, mas de todas voltou vitorioso.


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