Uma das sete histórias para sacudir o esqueleto de Angela-Lago.
DANÇANDO COM O MORTO
A viúva estava na cozinha com o
filho, contando o dinheiro que tinha encontrado debaixo do colchão, quando o
marido, falecido fazia meses, apareceu e veio sentar-se à mesa com eles. A
mulher não se intimidou:
- O que é que você está fazendo
aqui, seu miserável ?! Me dá paz! Você está morto! Trate de voltar para debaixo
da terra.
- Nem pensar- disse o morto. –
Estou me sentido vivinho.
A mulher mandou o filho buscar um
espelho. Entregou ao morto para que ele visse a sua cara de cadáver.
- É... Estou abatido. Deve ser
falta de exercício – disse o falecido.
E mandou o filho buscar a
sanfona, e convidou a mulher para dançar. Ela, é claro, não quis saber de
dançar com o defunto, que cheirava pior que gambá.
O morto nem ligou. Começou a
dançar sozinho. De repente a mulher viu que um dedo dele estava caindo, e
ordenou:
- Toca mais rápido, menino!
Assim que o ritmo se acelerou,
caiu outro pedaço.
- Mais depressa, que eu também
vou dançar- ela resolveu.
E começou a requebrar e saltar e
jogar a perna para o alto e balançar a saia.
O marido, animado, tratava de
acompanhar as piruetas da mulher, e enquanto isso o corpo dele desmoronava. Até
que só ficou a caveira pulando no chão, batendo o queixo. A mulher caprichou
uma pirueta, a caveira imitou e o queixo desmontou. Pronto.
Mais que depressa, a mulher
mandou o filho buscar um baú para guardar os pedaços do marido:
- Põe tudo que é dele, filho.
Tudo. Que eu vou procurar uns pregos e um martelo.
Dali a pouco ela voltou e caprichou
nas marteladas, para que o morto nunca mais escapulisse.
Enterraram o defunto de novo.
Depois jogaram bastante cimento em cima.
Só no dia seguinte a viúva se lembrou
do dinheiro do marido, que ela tinha deixado em cima da mesa.
- Cadê!?!
- Uai, mãe! Não era para guardar
no baú tudo que fosse dele?
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