Nesta lenda, Sávia Dumont nos recontou uma das mais belas histórias indígenas do Brasil.
OS MENINOS QUE VIRARAM ESTRELAS
“Quem vai ao Mato Grosso se encanta
com o céu estrelado. Conta-se por lá que as estrelas nasceram da amizade entre
uns indiozinhos e um beija-flor, que sempre os acompanhava em suas estripulias.
Certo
dia, as índias da tribo foram colher milho para fazer comidas gostosas para
seus maridos, que estavam caçando. Depois de debulhar as espigas, cantando
despreocupadas, puseram os grãos para secar ao sol. Enquanto o milho secava, as
índias foram se banhar no rio.
Os
curumins observavam tudo aquilo loucos para que o milho secasse logo e eles pudessem
comer afinal os quitutes prometidos. Mas não tiveram paciência de esperar. Pediram
à avó, já bem velhinha, que fizesse logo um bolo para eles. Tanto insistiram,
que a vovó fez o bolo, devorado por eles num abrir e fechar de olhos.
O
papagaio tagarela, que a tudo assistia, ameaçava:
-
Vou contar tudo para as índias. Vou contar que vocês usaram o milho e encheram
a barriga com o que era guardado para os guerreiros... Vou contar tudo – repetia.
Com
medo de levar uns bons cascudos, os curumins foram correndo se esconder na
mata.
Assim
que as índias retornaram à aldeia, o papagaio deu com a língua no bico. Contou o acontecido, tintim por tintim. As mães dos meninos ficaram
furiosas e prometeram uma surra bem dada
quando eles aparecessem.
Sabendo
o que os esperava, os indiozinhos passaram a tarde emendando um no outro os
cipós da floresta. Agarraram-se então na corda comprida que assim fizeram e pediram
ao amigo beija-flor que pegasse a ponta do cipó no bico e voasse o mais alto
que pudesse. E lá se foi a avezinha, levando para o céu o cipó apinhado de
meninos.
As
índias, desesperadas, chamavam o beija-flor de volta. Mas quanto mais elas chamavam,
mais alto ele voava.
À
medida que iam subindo, os meninos choravam, e cada lágrima que caía virava uma
estrela solta no ar. Fascinados, os curumins continuaram a brincadeira e não voltaram
mais para a aldeia. Ficaram morando no céu.
Fez-se
um colar imenso de estrelas. Quando a saudade bate forte, mães e filhos trocam
olhares. Dizem que em cada estrela que brilha desvenda-se um segredo do
Universo."
Nenhum comentário:
Postar um comentário