Rogério Andrade Barbosa escreveu e Maurício Veneza ilustrou contos africanos de adivinhação.
Este é um deles:
TRÊS MERCADORIAS
MUITO ESTRANHAS
Um
velho camponês, teimoso como uma mula, precisava atravessar um trecho do
caudaloso rio Niger carregando um leopardo, uma cabra e um saco cheio de
inhames.
A garotada das aldeias situadas em
margens opostas sentou-se no chão barrento, na maior algazarra, para ver como o
rabugento conseguiria transpor a perigosa correnteza.
A canoa do homem era muito pequena e
ele só poderia carregar um de seus pertences de cada vez.
—
Se deixar a cabra com o inhame – disse um dos meninos -, a esfomeada come tudo.
—
Se largar o leopardo com a cabra, o manchado devora o bichinho – opinou outro
garoto.
Irritado com a zombaria, o aldeão
reclamou em altos brados:
—
Vocês não aprenderam, de acordo com nossa tradição, a respeitar os idosos? Em
vez de ficarem criticando, por que não me ajudam? O que vocês fariam se
estivessem em meu lugar? Lembre-se – argumentou, citando um antigo provérbio -,
“quem é velho já foi jovem”.
As
palavras do ancião na mesma hora deixaram a meninada em silêncio.
O homem não desistiu e, como não
queria perder nada, pôs-se a pensar, agachado à beira da água lamacenta. No
entanto, por mais que quebrasse a cabeça, não encontrava uma solução.
QUE SOLUÇÃO VOCÊ DARIA PARA RESOLVER O PROBLEMA?
O
aldeão, desesperado, recorreu a um lavrador de cabelo grisalho montado em um
burrico a caminho de um mercado distante dali.
—
Primeiro – disse o homem, depois de coçar a cabeça por um instante -, você tem
de remar com a cabra para a outra margem e deixar o leopardo com o saco de
inhame. Esse animal, como todos sabem, não gosta de comer raízes.
—
Depois – continuou -, atravesse para cá e carregue o saco de inhame para lá. Ao
voltar, traga a cabra com você.
— E,
para completar a travessia – arrematou -, leve o leopardo e, em seguida,
retorne para buscar a cabra.
Foi
assim, finalmente, que o camponês atravessou o rio.
De
acordo com um ditado africano, “ninguém deve rir de um velho”.
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