segunda-feira, 30 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Rogério Andrade Barbosa escreveu e Maurício Veneza ilustrou contos africanos de adivinhação. 
Este é um deles:

TRÊS MERCADORIAS MUITO ESTRANHAS

           Um velho camponês, teimoso como uma mula, precisava atravessar um trecho do caudaloso rio Niger carregando um leopardo, uma cabra e um saco cheio de inhames.
            A garotada das aldeias situadas em margens opostas sentou-se no chão barrento, na maior algazarra, para ver como o rabugento conseguiria transpor a perigosa correnteza.
            A canoa do homem era muito pequena e ele só poderia carregar um de seus pertences de cada vez.
            Se deixar a cabra com o inhame – disse um dos meninos -, a esfomeada come tudo.
            Se largar o leopardo com a cabra, o manchado devora o bichinho – opinou outro garoto.
            Irritado com a zombaria, o aldeão reclamou em altos brados:
            Vocês não aprenderam, de acordo com nossa tradição, a respeitar os idosos? Em vez de ficarem criticando, por que não me ajudam? O que vocês fariam se estivessem em meu lugar? Lembre-se – argumentou, citando um antigo provérbio -, “quem é velho já foi jovem”.
             As palavras do ancião na mesma hora deixaram a meninada em silêncio.
            O homem não desistiu e, como não queria perder nada, pôs-se a pensar, agachado à beira da água lamacenta. No entanto, por mais que quebrasse a cabeça, não encontrava uma solução.

QUE SOLUÇÃO VOCÊ DARIA PARA RESOLVER O PROBLEMA?

           O aldeão, desesperado, recorreu a um lavrador de cabelo grisalho montado em um burrico a caminho de um mercado distante dali.
— Primeiro – disse o homem, depois de coçar a cabeça por um instante -, você tem de remar com a cabra para a outra margem e deixar o leopardo com o saco de inhame. Esse animal, como todos sabem, não gosta de comer raízes.
— Depois – continuou -, atravesse para cá e carregue o saco de inhame para lá. Ao voltar, traga a cabra com você.
— E, para completar a travessia – arrematou -, leve o leopardo e, em seguida, retorne para buscar a cabra.
Foi assim, finalmente, que o camponês atravessou o rio.
De acordo com um ditado africano, “ninguém deve rir de um velho”.



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