Nossa história de hoje foi contada por Celina Bodenmüller e veio de um país chamado República Dominicana.
O DOUTOR E A MORTE
Era uma vez um homem simples e um
tanto ambicioso que afirmava, para quem quisesse ouvir, que só trabalharia
quando o emprego que arranjasse o fizesse enriquecer rapidamente. Certo dia, a
Morte apareceu diante desse homem e disse:
- Sou a Morte e vim atender ao seu
desejo. Vou dar a você a profissão de doutor.
Terá o poder de curar qualquer pessoa somente com o toque de sua mão,
mas você deverá observar sempre o seguinte: quando eu estiver ao pé do doente,
você estará autorizado a libertá-lo de seu mal. Mas se eu estiver ao lado da cabeceira,
não faça nada.
Trato feito. E o homem começou a
correr as redondezas fazendo curas. Salvou milhares de vidas e sua fama foi se
alastrando mundo afora, até que foi esbarrar nos ouvidos de um rei cuja filha,
coitada, estava muito doente e já desenganada pelos médicos que a tinham
examinado.
- Mandem buscar este salvador de
sofredores, é imperioso que venha libertar minha amada filha de seu doloroso
destino.
Chegando ao palácio, o homem ouviu
do rei:
- Minha filha está em grande agonia.
Se a salvar, receberá metade da minha riqueza e sua mão em casamento. Mas ai de
você se deixá-la morrer! Estará condenado a morrer também, por minha ordem.
Seguro de que poderia curar a
princesa, o homem aceitou a proposta. Caminhou pelos corredores do palácio até
que chegou ao quarto da princesa e se viu de frente com uma moça pálida e de
respiração fraca deitada numa cama. Ficou em pânico ao ver que a Morte estava
postada à cabeceira e pensou, aflito:
- Ai, ai, ai, ai, ai... Vou
fracassar e ainda matarão a mim! Não posso salvá-la, o que farei agora?
Foi quando teve a ideia de inverter
a posição da cama e, assim fazendo, fez com que a Morte ficasse aos pés da
cama. Antes que a Morte entendesse o que se passava, o homem tocou a moça, que
imediatamente recuperou o viço e o fôlego. Estava curada. A Morte, percebendo a
traição, jurou vingança e esperou pelo homem à porta do castelo.
O rei, depois de dizer ao homem tudo
o que queria, ordenou que voltasse no dia seguinte para se casar com a
princesa. Ao sair do castelo, a Morte agarrou-o pelo braço e disse:
- Venha comigo, traidor!
Levou-o para o céu e lhe mostrou uma
quantidade infinita de lamparinas acesas, enquanto explicava:
- Veja o lume dessas lamparinas de
azeite. Cada um deles representa um ser vivente. À medida que o azeite se vai,
igualmente se vai o tempo restante de vida de cada ser. Agora olhe bem para
esta aqui que está com apenas um pouquinho de azeite, só há cinco minutos de
vida para o dono desta lamparina. Esta lamparina é sua.
Então o homem disse:
- Entendo o que diz, mas imploro por
mais 15 minutinhos de vida para eu contar uma história que sei que vai gostar.
Assim poderei redimir o meu erro.
A Morte aceitou a oferta. Enquanto
ela se distraiu com a história, o homem descobriu onde ficava guardado o azeite
e encheu tanto sua lamparina que vive até hoje.
Para dizer toda a verdade, o homem
da história sou eu. Perdi meu dom de curar os doentes e tenho um trabalho comum
agora, mas tenho muito tempo para as histórias e, como este conto agora acabou,
conto outro quando encontrar você outra vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário