segunda-feira, 16 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Nossa história de hoje foi contada por Celina Bodenmüller e veio de um país chamado República Dominicana.

O DOUTOR E A MORTE

            Era uma vez um homem simples e um tanto ambicioso que afirmava, para quem quisesse ouvir, que só trabalharia quando o emprego que arranjasse o fizesse enriquecer rapidamente. Certo dia, a Morte apareceu diante desse homem e disse:
            - Sou a Morte e vim atender ao seu desejo. Vou dar a você a profissão de doutor.  Terá o poder de curar qualquer pessoa somente com o toque de sua mão, mas você deverá observar sempre o seguinte: quando eu estiver ao pé do doente, você estará autorizado a libertá-lo de seu mal. Mas se eu estiver ao lado da cabeceira, não faça nada.
            Trato feito. E o homem começou a correr as redondezas fazendo curas. Salvou milhares de vidas e sua fama foi se alastrando mundo afora, até que foi esbarrar nos ouvidos de um rei cuja filha, coitada, estava muito doente e já desenganada pelos médicos que a tinham examinado.
            - Mandem buscar este salvador de sofredores, é imperioso que venha libertar minha amada filha de seu doloroso destino.
            Chegando ao palácio, o homem ouviu do rei:
            - Minha filha está em grande agonia. Se a salvar, receberá metade da minha riqueza e sua mão em casamento. Mas ai de você se deixá-la morrer! Estará condenado a morrer também, por minha ordem.
            Seguro de que poderia curar a princesa, o homem aceitou a proposta. Caminhou pelos corredores do palácio até que chegou ao quarto da princesa e se viu de frente com uma moça pálida e de respiração fraca deitada numa cama. Ficou em pânico ao ver que a Morte estava postada à cabeceira e pensou, aflito:
            - Ai, ai, ai, ai, ai... Vou fracassar e ainda matarão a mim! Não posso salvá-la, o que farei agora?
            Foi quando teve a ideia de inverter a posição da cama e, assim fazendo, fez com que a Morte ficasse aos pés da cama. Antes que a Morte entendesse o que se passava, o homem tocou a moça, que imediatamente recuperou o viço e o fôlego. Estava curada. A Morte, percebendo a traição, jurou vingança e esperou pelo homem à porta do castelo.
            O rei, depois de dizer ao homem tudo o que queria, ordenou que voltasse no dia seguinte para se casar com a princesa. Ao sair do castelo, a Morte agarrou-o pelo braço e disse:
            - Venha comigo, traidor!
            Levou-o para o céu e lhe mostrou uma quantidade infinita de lamparinas acesas, enquanto explicava:
            - Veja o lume dessas lamparinas de azeite. Cada um deles representa um ser vivente. À medida que o azeite se vai, igualmente se vai o tempo restante de vida de cada ser. Agora olhe bem para esta aqui que está com apenas um pouquinho de azeite, só há cinco minutos de vida para o dono desta lamparina. Esta lamparina é sua.


            Então o homem disse:
            - Entendo o que diz, mas imploro por mais 15 minutinhos de vida para eu contar uma história que sei que vai gostar. Assim poderei redimir o meu erro.
            A Morte aceitou a oferta. Enquanto ela se distraiu com a história, o homem descobriu onde ficava guardado o azeite e encheu tanto sua lamparina que vive até hoje.
            Para dizer toda a verdade, o homem da história sou eu. Perdi meu dom de curar os doentes e tenho um trabalho comum agora, mas tenho muito tempo para as histórias e, como este conto agora acabou, conto outro quando encontrar você outra vez.


Nenhum comentário:

Postar um comentário