terça-feira, 10 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Uma crônica de Carlos Drummond de Andrade:

ASSALTO                                 
Na feira, a gorda senhora protestou a altos brados contra o preço do chuchu:
– Isto é um assalto!
Houve um rebuliço. Os que estavam perto fugiram. Alguém, correndo, foi chamar o guarda. Um minuto depois, a rua inteira, atravancada, mas provida de admirável serviço de comunicação espontânea, sabia que se estava perpetrando um assalto ao banco. Mas que banco? Havia banco naquela rua? Evidente que sim, pois do contrário como poderia ser assaltado?
– Um assalto! Um assalto! – a senhora continuava a exclamar, e quem não tinha escutado escutou, multiplicando a notícia. Aquela voz subindo do mar de barracas e legumes era como a própria sirena policial, documentando, por seu uivo, a ocorrência grave, que fatalmente se estaria consumando ali, na claridade do dia, sem que ninguém pudesse evitá-la.
Moleques de carrinho corriam em todas as direções, atropelando-se uns aos outros. Queriam salvar as mercadorias que transportavam. Não era o instinto de propriedade que os impelia. Sentiam-se responsáveis pelo transporte. E no atropelo da fuga, pacotes rasgavam-se, melancias rolavam, tomates esborrachavam-se no asfalto. Se a fruta cai no chão, já não é de ninguém; é de qualquer um, inclusive do transportador. Em ocasiões de assalto, quem é que vai reclamar da penca de bananas meio amassadas?
– Olha o assalto! Tem um assalto ali adiante!
O ônibus na rua transversal parou para assuntar. Passageiros ergueram-se, puseram o nariz para fora. Não se via nada. O motorista desceu, desceu o trocador, um passageiro advertiu:
– No que você vai a fim de ver o assalto, eles assaltam sua caixa.
Ele nem escutou. Então os passageiros também acharam de bom alvitre abandonar o veículo, na ânsia de saber, que vem movendo o homem, desde a idade da pedra até a idade do módulo lunar.
Outros ônibus pararam, a rua entupiu.
Melhor. Todas as ruas estão bloqueadas. Assim eles não podem dar no pé.
– É uma mulher que chefia o bando.
– Já sei. A tal dondoca loura.
– A loura assalta em São Paulo. Aqui é a morena.
– Uma gorda. Está de metralhadora. Eu vi.
– Minha Nossa Senhora, o mundo está virado!
– Vai ver que está caçando é marido.
– Não brinca numa hora dessas. Olha aí sangue escorrendo!
– Sangue nada, tomate.
Na confusão, circularam notícias diversas. O assalto fora a uma joalheria, as vitrinas tinham sido esmigalhadas a bala. E havia joias pelo chão, braceletes, relógios. O que os bandidos não levaram, na pressa, era agora objeto de saque popular. Morreram no mínimo duas pessoas, e três estavam gravemente feridas.
Barracas derrubadas assinalavam o ímpeto da convulsão coletiva. Era preciso abrir caminho a todo custo. No rumo do assalto, para ver, e no rumo contrário, para escapar. Os grupos divergentes chocavam-se, e às vezes trocavam de direção: quem fugia dava marcha à ré, quem queria espiar era arrastado pela massa oposta. Os edifícios de apartamentos tinham fechado suas portas, logo que o primeiro foi invadido por pessoas que pretendiam, ao mesmo tempo, salvar o pelo e contemplar lá de cima. Janelas e balcões apinhados de moradores, que gritavam:
– Pega! Pega! Correu pra lá!
– Olha ela ali!
– Eles entraram na Kombi ali adiante!
– É um mascarado! Não, são dois mascarados!
Ouviu-se nitidamente o pipocar de uma metralhadora, a pequena distância. Foi um deitar-no-chão geral, e como não havia espaço, uns caíam por cima de outros. Cessou o ruído. Voltou. Que assalto era esse, dilatado no tempo, repetido, confuso?
– Olha o diabo daquele escurinho tocando matraca! E a gente com dor de barriga, pensando que era metralhadora!
Caíram em cima do garoto, que soverteu na multidão. A senhora gorda apareceu, muito vermelha, protestando sempre:
– É um assalto! Chuchu por aquele preço é um verdadeiro assalto!
Um assalto! Chuchu por aquele preço é um verdadeiro assalto!

segunda-feira, 9 de julho de 2018

OS NOMES DE RUAS E AVENIDAS

Você sabia que os nomes de ruas e avenidas possuem história?

Você sabe de onde vem o nome da rua onde você mora?

Acesse:

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Composição de Toquinho, Vinícius de Moraes, Maurizio Fabrizio e Guido Morra.

AQUARELA

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo

Corro o lápis em torno da mão
E me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos
Tenho um guarda-chuva

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando, contornando
A imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul

Pinto um barco a vela
Branco navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul

Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar

Basta imaginar e ele está partindo
Sereno e lindo
E se a gente quiser
Ele vai pousar

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida

De uma América a outra
Consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo

Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente a esperar
Pela gente o futuro está

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar

Sem pedir licença
Muda nossa vida
E Depois convida
A rir ou chorar

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar

Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá

E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
Que descolorirá...

Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá...

domingo, 8 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Não podia faltar uma bela história de Pedro Malasartes.

O ANIVERSÁRIO MALASARTES

Era aniversário de Pedro Malasartes. Ele adorava uma festa, mas estava sem dinheiro para comemorar, com uma festança, o aniversário dele. Resolveu então, visitar o primo que tinha muito dinheiro e, certamente, lhe ofereceria alguma coisa, apesar de ser um pouco pão-duro. Chegando a fazenda do primo, este o recebeu com muito entusiasmado, não pela visita, porém por economizar assim a viagem a casa do aniversariante. Entraram e o primo foi logo oferecendo:
— Ó, primo Pedro! Tenho aqui uma broa que sinhá assou, fresquinha. É tanta que vai durar a semana inteira.
— Broa de milho, primo?
— É sim, quer um pedaço?
— Não, primo - agradeceu Malasartes - basta um cafezinho.
— Mas é seu aniversário primo, eu reconheço que sou um pão-duro, mas um pouco de cortesia ao primo não faz mal! Se quiser é só pedir.
Malasartes novamente agradeceu, porém continuou só com o café. Continuaram proseando e, em meio à prosa, o primo lhe diz:
— Olha Pedro, ontem mandei matar aquele leitão capado que eu vinha engordando. Temos uma porção de torresmo e toucinho frescos que mandei preparar. Quer um pouco, pois tenho bastante?
— Não me diga isso! Tem muito mesmo?
— É o que lhe digo! Tenho bastante, quer?
— Nada primo, pode deixar, basta um cafezinho.
— Seja dito..., mas quando quiser é só pedir.
Continuaram proseando mais e mais, até que o primo fez nova oferta:
— Pedro, faz tempo que guardo umas garrafas de cachaça. Vamos tomar uns goles para comemorar?
— E é dá boa?
— Da melhor.
— Não primo, para mim basta um cafezinho.
- Não se faça de rogado que você tá em casa. Quando ficar com vontade é só pedir.
E assim, o primo de Pedro Malasartes, querendo lhe agradar pela passagem do aniversário e ao mesmo tempo percebendo que Malasartes não estava querendo lhe dar despesa, foi oferecendo um pouco de cada coisa que tinha na despensa. Malasartes ouvia e recusava; contentando-se só com o cafezinho. E foram nessa toada até que ouviram uma tímida batida na porta. O primo de Malasartes se levantou, abriu a porta e pegou de espiar; do lado de fora havia uma verdadeira multidão de conhecidos. O primeiro foi logo falando:
— Olha, desculpa a intrusão, mas ficamos sabendo que Pedro Malasartes estava por aqui e passamos somente para dar lhe dar os parabéns.
Desconfiado, mas sem ter como recusar, o primo convidou a todos para entrar, mas foi logo avisando:
— Meus amigos! Gostaria de lhes oferecer alguma coisa, mas... quase nada tenho na despensa...
Malasartes, deixando de lado o cafezinho e interrompendo o primo, falou:
— Primo, sabe aquele torresmo, aquele toucinho, aquela broa, a cachaça, a suco de laranja, a rosca, a linguiça, e tudo mais que você me ofereceu? Agora eu até quero um pouquinho, que já me cansei desse cafezinho que tomava pra modo de esperar o pessoal chegar...
Vosmecê calcule, o primo ficou aturdido, tonteou... Parecia inté que estava para dar a alma a Deus; mas, uma vez que o oferecido estava em vigor, acabou bancando toda a festa.
Pois foi assim que Pedro Malasartes teve a sua festança.

sábado, 7 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Belos contos africanos  de Rogério Andrade Barbosa:

POR QUE A GIRAFA NÃO TEM VOZ

Houve uma época em que os animais da floresta falavam todos a mesma língua. A girafa gostava de se vangloriar dizendo que era a rainha dos bichos porque tinha o pescoço mais comprido. Como era mais alta que os outros, costumava ficar olhando para o céu e conversando sozinha consigo mesma.
       Os outros bichos logo começaram a se irritar com essa mania da girafa, especialmente na hora em que tentavam tirar uma soneca depois do almoço.
            Irritados, começaram a traçar um plano para silenciar a chata da girafa. O leopardo foi até a grandalhona e provocou:
            - Você fica aí contando vantagem o dia inteiro, mas tem coisas que não sabe fazer.
            A girafa, que era muito atrevida, gritou:
            - O que, por exemplo?
            - Correr mais rápido do que eu – desafiou o veloz leopardo.
            - Aceito – respondeu a girafa, sem pestanejar. – me avise a hora e o lugar.
            O dia da corrida foi logo marcado. O leopardo, certo que ia vencer, convocou todos animais da floresta para vê-lo derrotar a grandona. Os bichos correram para se divertir e torcer pela derrota da girafa.
            Assim que foi dada a largada, os dois saíram em disparada lado a lado, mas logo o leopardo tomou a dianteira. Corria tanto que acabou chocando-se contra uma árvore e teve de abandonar a competição.
            A bicharada ficou muito decepcionada ao ver a girafa se tornar campeã. Depois da vitória, ela ficou mais faladora ainda.
            Ninguém tinha mais paciência para aguentar aquele blá-blá-blá infindável. Até que o macaco, esperto como ele só, resolveu dar um jeito na questão.
            Ele tirou um bocado de resina de uma árvore e misturou-a na ramaria que a girafa costumava mastigar. Depois, escondeu-se, esperando a falastrona chegar pra comer.
            As folhas prenderam-se no comprido pescoço da girafa e, por mais que ela tossisse e cuspisse, ficaram grudadas em sua garganta, calando-a para sempre. Daí em diante, seus descendentes passaram a nascer sem voz.


sexta-feira, 6 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

Mário Neme nos encanta e nos diverte com o clima de suspense e susto.

HISTÓRIA DE ASSOMBRAÇÃO    

            Pois não é que eles vinham vindo pela estrada fria, Nhô Bê e Chico, dois homens. Vinham vindo pelo estradão sem fim, naquela noite amarga de escura, nem uma estrela no céu, nenhuma claridade, tudo negro, tudo medonho. Era quase meia-noite e ele vinham vindo, só com o facão na cintura, voltando pro rancho.
       Nisso estavam chegando perto da casa do defunto Michelangelo, uma tapera abandonada, que de noite apareciam lá não sei quantas almas do outro mundo. Muita gente já tinha visto as tais almas cantando, tinha dado tiro nelas, mas a bala não pegava. Uma tocava viola, uma viola chorosa e bem afinada, mas ninguém via a viola. Coisa misteriosa. Era mesmo daquelas assombrações que a gente respeita e passa longe, evita elas, mas Nhô Bê não acreditava “nessas bobagens não”.
            - Isso de assombração é besteira, Chico.
            - Se é, compadre.
          - Pois eu não acredito nisso e acho que é até pecado acreditar. O pessoal lá em casa é meio besta, acredita, isto é, a mulherada que é meio besta.
            - Em casa também, compadre.
            - Negadinha boba, Chico. Donde se viu?! Eu nunca tive medo dessas invenções.
            - Nem eu, Nhô Bê, nem eu.
            Eu estava orgulhoso de ver dois bravos com essa coragem formidável, isso sim, era gente pra pôr num conto, até dava gosto lidar com eles. Precisava ver quando, daí a pouco, desabou uma tempestade de acabar o mundo, daquelas mesmo de lavar a terra e a gente não se agüentar em pé debaixo dela.
            Chuááá, e a aguaceira caía que não era vida! Então, os dois homens estavam bem pertinho da casa mal-assombrada, onde tinham matado o defunto Miguelangelo. Foi uma barbaridade aquela morte, quebraram os dentes dele, quebraram os dedos dos pés e das mãos e depois deixaram o velho ir morrendo devagarinho, naquele sofrimento, que só aquilo merecia o céu.
            Estavam mesmo na frente da casa, e a chuva de não se agüentar embaixo. Nhô Bê falou para o companheiro:
            - Acho que é melhor a gente entrar na casa e esperar passar a chuva, Chico.
            - Mas é que essa casa tem uma fama desgraçada, compadre...
            - O que tem isso, Chico? Pois a gente não tem medo de assombração.
            - Ah! É mesmo, compadre! Então vamos.
            E foram. Entraram sem abrir a porta, porque não tinha porta mais, nem janela.
           Mas entraram com muita precaução, espiaram pra dentro, foram andando de manso, chegaram no centro da casa, juntaram uns gravetos, e tal, e fizeram fogo.
        O fogo eles disseram, lá entre eles, que era para esquentar o corpo, mas eu desconfio que era pra espantar as almas do outro mundo. Porque, francamente, eles não estavam muito firmes, não. Coragem eles tinham e bastante, mas, numa hora dessas, num lugar assim de má fama, meia-noite, aquela chuva torvando, aquela casa escangalhada, a gente fica mesmo meio esquerda. Mas eles estavam ali, firmes.
            De repente, um barulhinho esquisito, que nem gente que pisa disfarçado. Os dois estavam agachados na frente do foguinho, nessa hora arregalaram os olhos, ficaram assuntando pro lado do barulho, que era no vão da porta.
            Pra dizer a verdade, estavam com os olhos deste tamanho, olhavam um pro outro e depois pra porta. Outro barulhinho mais perto e apareceu uma sombra se mexendo na porta. Nhô Bê puxou a faca da cintura. Chico segurou a “pernambucana” e ficou pronto pra enfrentar o bicho. Mas, porém, o bicho não era “aquele bicho”. Era um franguinho. O pobre vinha todo molhado, pingando chuva, querendo encontrar um cantinho pra se esquentar. Aquilo foi um contentamento pros dois, um alívio pra eles, até para mim que não tinha nada com o caso. Não é que eles tivessem medo, mas, numa hora daquelas, aquele barulho na porta, um negócio assim que vinha agachado pro lado deles, era mesmo pra gente arregalar os olhos e parar a suspiração. 
            - Está vendo, Chico, se a gente tivesse medo podia até morrer de susto agora, pois é só um franguinho.
            - Pois é, compadre, um franguinho, um franguinho, compadre...
            O franguinho veio vindo, chegou perto do fogo, chacoalhou as asas, esticou o pescoço pra cima, fez assim uma carinha de gente e falou pros dois com voz de trovão:
            - PUXA VIDA, COMO ESTÁ CHOVENDO, NÃO?


quinta-feira, 5 de julho de 2018

UMA HISTÓRIA POR DIA...

A "festa" de Clarice Lispector:

ALVOROÇO DE FESTA NO CÉU

Não é que na véspera do Carnaval houve no céu uma festa para os bichos da selva?
Os convites foram entregues por um beija-flor que delicadamente os deixava em cima de corolas de vitórias-régias. O bicho que ia passando via o seu nome no envelope e pulava de alegria: tinha sido contemplado com um programa para o fim de semana!
Mas notaram todos que só recebiam convites os bichos de asa. O que era uma injustiça. Pelo menos foi o que o sapo gordo pensou. Os animais de terra estavam conformados, esperando o dia em que houvesse a festa lá na selva mesmo. Mas, como eu disse, o sapo verde não. Todos riam dele e de suas reclamações coaxadas e inúteis.
Ele aproveitou o fim manso de tarde para gritar bem alto e ser bem ouvido.
— Eu também vou!
Os pássaros caçoaram e perguntaram:
- Cadê tuas asas, bicho feio?
Foi então que pensou: devo consultar quem é igual a mim, porém mais velho. E realmente, no brejo que ficava entre samambaias e avencas, encontrou um sapo velho e cheio de sabedoria chamado Quá-quá-quá. Este se amedrontou com as intenções do sapo jovem:
— Olhe, é melhor para a sua saúde não sair do chão e ter água por perto.
Então o sapo jovem disse-lhe:
— O senhor é capaz de guardar um segredo? Pois bem, eu vou dançar lá em cima. Basta-me que o urubu feio leve o seu violão
Quá-quá-quá disse-lhe que não o entendia.
O sapo foi falar com o urubu:
— Você vai levar seu violão, urubu?
O urubu, de violão debaixo da asa, nem se dignou a responder.
— Senhor urubu, quer me fazer um único favor? O de ver se estou naquela esquina?
O urubu, meio burro, replicou que, já que era um só favor, ele iria. E não carregou o violão. O sapo mais que depressa entrou no violão e ficou lá bem quieto, embora tivesse uma vontade louca de fumar. O urubu voltou para lhe dizer que não o havia encontrado na esquina — mas cadê o sapo? Sumira, pensou. E pensou: agora vou para o céu.
Para encurtar a história, o sapo, dentro do violão, chegou ao céu e mais do que depressa pulou para fora e começou a dançar todo feliz. Os pássaros se espantaram, perguntaram ao senhor sapo como havia chegado. Mas a alma do negócio é o segredo e o sapo só respondeu malcriado:
— É que eu me arranjo sempre!
E entrou de novo sorrateiro no violão para ir embora. Mas o urubu percebeu a coisa e ficou raivoso: Espertinho, não é? Pois agora mesmo é que você vai voar, vou te soltar no ar. Então o sapo pediu todo manhoso:
— Está vendo aquela pedra e aquele lago? Pelo amor de Deus, deixe eu cair na pedra porque se eu cair no lago eu me afogo!
— Pois é no lago que eu vou te largar, para você morrer!
O sapo, bem feliz, caiu no lago, e salvou-se.
Moral da festa? Bem, não houve.